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Canal 100 celebra os 450 anos do Rio

Das muitas discussões que se seguiram ao vexatório 7 a 1 sofridos pelo Brasil diante da Alemanha na semifinal da Copa de 2014, pelo menos uma ainda deve persistir por um bom tempo: onde foi parar o encanto do futebol brasileiro? Há tempos que não vemos dribles desconcertantes como os da seleção de 1962 ou jogadas bem tramadas como as dos times de 1970 e 1982. Desses, sobraram apenas as lembranças. E imagens.

Esses registros são o grande atrativo da exposição Canal 100, Uma Câmera Lúdica, Dramática e Explosiva, que será realizada primeiramente no Rio, a partir deste domingo, 25, como parte da programação oficial do aniversário de 450 anos da cidade. A mostra, que vai a São Paulo e Brasília ainda este ano, ocorrerá no Galpão das Artes do Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, zona sul da cidade. Ela faz parte do projeto que incluiu a produção de um livro homônimo, lançado durante a Copa do Mundo, que teve a primeira edição esgotada em apenas um mês.

“As pessoas vão ver uma exposição feita cuidadosamente com os melhores momentos do Canal 100”, garante Cláudia Pinheiro, que, com Carla Niemeyer – filha do criador do Canal 100, Carlos Niemeyer -, é uma das curadoras e produtoras da mostra. “Mas os melhores momentos não são apenas os gols de alguém em um determinado jogo. O que a gente quer mostrar é o diferencial do Canal 100, que através das lentes do cinema, com um equipamento superprecário na época, conseguia transformar o jogo num espetáculo grandioso.”

A exposição será dividida em três módulos, focando o futebol – carro-chefe do cinejornal semanal exibido entre 1959 e 1986 em salas de cinema de todo o País -, o Brasil e o mundo. Assim como o livro, ela será bilíngue (português e inglês). Telas de três metros exibirão vídeos de 12 a 15 minutos editados com as melhores imagens do acervo, enquanto o público poderá acompanhar edições na íntegra em monitores menores e interativos. Uma cronologia do Canal 100 e uma homenagem a seus integrantes também compõem a mostra.

A inauguração de Brasília, obras da Transamazônica e até o surgimento do movimento hippie foram retratados ao longo dos 27 anos do cinejornal e estarão em exibição no Galpão das Artes. O cotidiano do Rio ganha destaque especial.

“O Canal 100 é muito o Rio do Tom Jobim, porque pegou bem aquele período em que ele esteve no auge”, observa Cláudia. A própria data de inauguração da mostra foi escolhida para homenagear o músico, que completaria 88 anos no dia 25 de janeiro.

Mas, como não poderia deixar de ser, a grande atração de Canal 100, Uma Câmera Lúdica, Dramática e Explosiva será o futebol, aquele do antigo Maracanã, das bandeiras e dos impropérios dos torcedores nas arquibancadas. “Vamos ter o fosso do Maracanã. A gente projetou um pequeno fosso, porque um dos diferenciais era uma das câmeras posicionadas lá”, revela ainda a produtora Cláudia.

Foi do fosso do então maior estádio do mundo que o cinegrafista Francisco Torturra captou algumas das mais emblemáticas imagens da história do Canal 100, usando a técnica da câmera lenta para “filmar o que o pessoal não podia ver da arquibancada, a pressão do jogador, a reação do adversário, as pernas correndo”, como afirmaria ele próprio tempos depois.

À frente de seu tempo, o cinejornal também foi pioneiro em dar as costas para o campo durante as partidas e registrar a reação de torcedores nas arquibancadas – o radinho colado no ouvido, as unhas sendo roídas, os palavrões impublicáveis e as comemorações efusivas.

A trupe de Niemeyer cobriu algumas Copas, captando lances inesquecíveis de seleções que tiveram Pelé, Garrincha, Gerson, Jairzinho, Rivellino e tantos outros. E as imagens vinham acompanhadas de algumas narrações memoráveis. “A seleção estava tonta, a defesa, em pânico, e o ataque, inoperante.” Podia ser o relato de Brasil x Alemanha em 2014, mas foi sobre o time que naufragou diante de Portugal no Mundial de 1966. No fim das contas, a exposição Canal 100, Uma Câmera Lúdica, Dramática e Explosiva mostrará que nosso futebol, talvez, nem tenha mudado tanto assim. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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